segunda-feira, 3 de novembro de 2008


Sentada no banco mais alto do ônibus, aquele que fica bem lá na frente. Eu abro a janela e deixo o vento fraco de um final de manhã, de um finalzinho de julho-férias entrar por ela.Eu gosto de olhar o movimento da rua sob a perspectiva do onibus.Eu vejo tudo e rápido e escondida.
De certa forma acabo por me sentir parte desse todo, coeso e desregulado; uma pecinha na engrenagem da vida. E paradoxalmente, também consigo me sentir parte de nada, independente, desconexa, à parte de todas as coisas e pessoas do lado de lá. Nesse momento, eu apenas olho. Observo... sem compromentimentos at all...
Então quando eu mudo de direção e olho através da janela maior. Aquele imenso vidro que se abre para o mundo como à destrinchá-lo em suas particularidades. Ah! a janela do motorista... De lá eu vejo tudo com lente de aumento. O tráfego: carros em fila indiana (só q sem a paz budista). Buzinando apressados... "Mas eles vão pra onde???!!"
Sempre me pergunto pra onde aquele senhor grisalho de blusa listrada e de botões dentro do carro ao meu lado irá, e se aquele maço de cigarro Malboro meio amassado e com a figura horripilante voltada pa cima largado de qq jeito em cima do painel vai conseguir mata-lo antes que a sua direção relapsa.
Mas e aí eu vejo o Sol emoldurando tudo isso com seus raios celestes. Um Sol tão lindo querendo morrer com a tarde que se anuncia à oeste. E eu permito a qualquer um se matar ao volante, fumar cigarros "Malboro" e atravessar a pista correndo com um saco de compras. A vida é mesmo mais divertida quando disposta em "flashs" e melhor entendida se observada em "slow-motion", + quanto à iluminação... sempre prefiro a natural. Porque o Sol, eis o unico a realizar a proeza de morrer tão lindo quanto nasce... espetáculo vespertino, diário e permanente.
Sou uma apaixonada pela vida e pelo cotidiano. E também uma eterna descontente. O ônibus fez a curva. Saiu um..dois..e mais dois agora... Se você reparar bem a rotina do onibus ela é parecida com a da vida. Tem subidas e descidas, curvas inesperadas, pessoas entrando e saindo à todo momento, e sempre a mesma possibilidade de se olhar para fora e ver as coisas exatamente como são, e pensar o que se quiser - em silêncio.
É, mais o triste dessa verdade toda é que a viagem uma hora sempre acaba. Deixa eu puxar a cordinha aqui...