sábado, 11 de julho de 2009

Graça e Edipo

Chegou com bafo etílico, fingindo não reparar, fingindo suportar, entrou no banho, fiz um café bem forte enquanto triturava os grãos, fazia minhas fantasias e conversava com os tais. A chaleira berrava tão estridente, que torturava meus ouvidos e chateava meus vidros, nem mais telhados, de vidro, nem mais...
Logo a luz ficava mais forte, ele saiu do banho quente, amo quando ele sai do banho com cara de cansado com cheiro de alecrim, o cabelo molhado, aquele cabelo tão lindo com cor noturna, fui espiar... E estava ele lá.
Se enxugava com a minha toalha eu acho tão engraçado quando ele enrola a toalha na cabeça que nem mulher. Pegou a primeira samba canção que viu, passou desodorante e aplicou a pomada no joelho , (ele não aprende!) o joelho todo machucado... O jogo realmente foi brabo hoje, é meu atacante predileto! E agora sim... Ele enxugando o cabelo, quando foi levantar, não sei se tonto ou dolorido, cambaleou... Eu ri! Ri alto, sem querer... Ele olhou pra minha cara e disse:
- Desgraça, é praga sua!

Me virei rindo entre os dentes, ansiando desesperadamente ele vim tomar o café da tarde. Tirei os pães de queijo do forno, parece como a primeira vez que eu fiz essa receita, o mesmo cheiro, a mesma energia, sabor de afeto. E deu um aperto, saudade dos 18 anos, onde tudo era mais fácil, mais do que companheirismo, não que seja ruim, mas a fantasia agora é realista, crua! é verdade.
Ele chega, nos seus passos já reconheço qualquer sentimento, qualquer ponta de sim ou de não, quando se escuta o silencio, é fácil perceber esse detalhe tão grande. Chega perto de mim, encosta sem querer encostar, olha pelo ombro e vê o que fiz de tão cheiroso, eu fico estática, esperando qualquer acalanto, ganho um sussurro no ouvido :
- Desgraaaçaaa...

Eu rio, ele sai, me vira, pega minha mão e com cara já de ressaca, continua:
- Desgraça, casa comigo?

Me viro, abro a geladeira e digo não! Ele fala/reclama baixinho do jeito quando ele faz pra eu ouvir e reclamar, santa implicância! Senta na mesa, mistura o café com o leite, ele devora o pão de queijo, eu sento, olho, abaixo a cabeça e começo a cortar o pão francês devagar pra não machucar, nem ele perceber o devorar do olhar e ele emenda uma conversa sem fim:
- Mãe, quando que eu posso trazer a Carlinha aqui ?

Eu penso... (que) Desgraça Graça!