segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Carta ao diretô

Dôtor,
AS escolas , cada uma com a sua bandeira, os seus interpretes e suas manias.... Tem a verde e rosa que no fundo não combina com nada, "verde que te quero rosa"; se eu for de azul e branco parece que levo oferendas a Iemanjá; vermelho e branco vou pra guerra, saudando os campos de batalha. Seu moço, eu não tenho escola, eu tenho samba! Eu gosto do inferno carnavalesco de todos os barracões, mas não me peça pra ir vestida de dourado parecendo uma debutante, nem de preto que não estou de luto, nem vou de verde que estou madura demais, seu moço.
Peço pra guiar minha torcida... Colorida, eu vou colorida, pois minha escola é o samba seu moço... Não com as cores das escolas, mas com todas cores que eu já vi nessa vida. Deixa dizer moço, não aturo comentário de ferida da escola que desce , sobe ou que não faz diferença. A minha escola é o samba e não importa onde ele nasceu. Se nasceu na rosa, no azul, na amarela, no verde ou no vermelho... Só importa que ele existe, minha escola é a vida moço, a vida de bamba !
"Não me altere o samba tanto assim", não o samba que eu sambo sinhá, mas o samba que eu vivo... Não me obrigue a ser o mais ou o menos que eu quero moço, que eu não te digo lamentações e nem fico sem fôlego no meio da sua avenida. Não me diga que a escola ganhou esse ano, eu te digo quem ganha pra mim! Pode fazer festa no seu barracão moço, que o barracão do samba é o meu coração. Com todo respeito seu moço, "o samba é alegria falando coisas da gente"; não me venhas com histórias suas que ninguém pode entender, "o sambista não precisa ser membro da academia, ao ser natural em sua poesia o povo lhe faz imortal".
Moço, agora eu só te peço calma, não se aborreça com minhas atitudes, venho por meio desta explorar toda a plenitude do batuque no meu coração, não fique triste não, só te digo que o que importa na escola, não é a cor, nem a bandeira e é sim o amor que pulsa em cada canção e em toda minha ignorância moço me faz ver coisas que você não vê. Eu vim do morrinho, ralei muito por aqui, sambei de pé no chão, levei lata d'agua, criei três irmão, mas minha cabeça é alta moço e não é pra ver ninguém de baixo não, é pra enxergar na frente seu moço.
Mesmo assim, se o moço se emputecer, eu tenho meu anjo que me guarda, meu santo é forte e eu sei "que a malvadeza desse mundo é grande em extensão e muita vez tem ar de anjo e garras de dragão", por isso trago São Jorge em minha companhia e sei que ele me tem no coração. Por isso moço não quero briga, mas se precisar traga sua banda que eu trago a minha, sou mulher , mas sei me virar sozinha; o mundo é grande não me fez dura, mas também não me fez vazia.
E por fim reafirmo moço,"dentro do samba eu nasci, me criei, me converti... E ninguém vai tombar a minha bandeira..." , a MINHA bandeira!

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

"Dentro do samba nasci, me criei,

me converti...
E ninguém vai tombar a minha bandeira..." ♪

E afinal vamos ou não vamos? Ouço a música , e no fundo é a única coisa que anima antes de você pensar em comprar o ingresso! Quando você ouve aquela música que você gosta, Nem percebe , mas já tá ali na porta, na fila para alavancar a catraca, entregar o ingresso e ser revistado...

Nem dava pra enxergar, era energia demais suspensa, mas o samba tava quente! Muita gente, gente! De todos os tipos , um calor que eu desisto da blusa, levanto a manguinha bufante, que é pra ver se melhora, mas se no inferno for assim, nossa! nem quero imaginar, vou ficar na dúvida!

A noite vai caindo, de-va-gar, lenta-mente... Porque horário de verão salva tudo! Circulam uns ventos inesperados que Iansã manda pra aliviar todo aquela quentura animadora... Pra quem não bebe e senta na mesinha (porque lá há várias), o calor nem faz sentido! Mas pra mim e pra todo o povo em pé sambando; ou só segurando o copo , com a outra mão no bolso da frente da calça, cantando a música numa mescla de marra e afeto... Aquele calor é contente!

E logo logo já faço uma amizade, pergunto se posso dividir a mesa, só pra colocar a bolsa e o casco de cerveja em cima. Desculpa pra quem sai sozinha e nunca fica sozinha na roda, afinal tem que ter alguém pra embolar no sambar e dividir os passos que você nem sabe como aprendeu!

Não há cansaço ali, ninguém pensa na segunda-feira as 5h de pé pro trabalho, é só ouvir a música, como se cuidassem da evolução de uma escola de samba. E todo mundo canta, e todo mundo dança, olhares de todos os lados o mundo reparando em tudo. Existe sempre aquela saia que sobe, um olhar que desce e supervisiona todas as curvas de um corpo que se quebra (e pra não citar nenhum instrumento, pra não esquecer de algum...) ao som de um tambor que parece que tem raiz na terra onde o pé desliza, se mescla com o coração, isso é o meu samba!

Roda de samba geralmente é bem parecida uma com a outra, obviamente coisas SEMPRE mudam, maaaaaaaas de qualquer forma, é o ritmo que a gente tem no sangue que não deixa o samba morrer. E tem gente que bebe, tem gente que samba, tem gente que canta, tem gente que faz utopia... E principalmente: gente que faz tudo isso! Naquele samba lá tem de tudo que normalmente tem em todo o samba, mas o clima lá é tão tranquilo que eu me sinto super a vontade e olha que a culpa não é da cerveja! E óbvio, se o moreno me tirar pra dançar eu não vou dizer não, meu bem !