sábado, 23 de fevereiro de 2008

O direito ao Foda-se

por Millôr Fernandes ou Pedro Ivo Resende*

Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua.
"Pra caralho", por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que "Pra caralho"? "Pra caralho" tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via-Láctea tem estrelas pra caralho, o Sol é quente pra caralho, o universo é antigo pra caralho, eu gosto de cerveja pra caralho, entende?
No gênero do "Pra caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "Nem fodendo!". O "Não, não e não''! E tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade ''Não, absolutamente não!'' O substituem. O "Nem fodendo" é irretorquível, e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo "Marquinhos, presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!". O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio.
Por sua vez, o "porra nenhuma!" atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a bravata daquele chefe idiota senão com um "é PhD porra nenhuma!", ou "ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!". O "porranenhuma", como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha. São dessa mesma gênese os clássicos "aspone", "chepone", "repone" e, mais recentemente, o "prepone" - presidente de porra nenhuma.
Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um "Puta-que-pariu!", ou seu correlato "Puta-que-o-pariu!", falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba...Diante de uma notícia irritante qualquer um "puta-que-o-pariu!" dito assim te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.
E o que dizer de nosso famoso "vai tomar no cu!"? E sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai tomar no olho do seu cu!". Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: "Chega! Vai tomar no olho do seu cu!". Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e saia à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.
E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu!". E sua derivação mais avassaladora ainda: "Fodeu de vez!". Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e autodefesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar: O que você fala? "Fodeu de vez!".
Sem contar que o nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do ''foda-se!"? O "foda-se!" aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Me liberta.". Não quer sair comigo? Então foda-se!". "Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo? Então foda-se!".

O direito ao ''foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição Federal. Liberdade, igualdade, fraternidade e FODA-SE.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

escritores mentirosos

Eu não sei mais escrever, seja com papel, caneta , lápis, lapiseira, word, bloco de notas, blog , etc.O que importa é relatar que eu não sei mais escrever. Uma linha, duas...Ponto. Eu não sei mais escrever, o texto se perde e o caminho dessa estrada é uma sagatiba.
Tudo que escrevo auto-critico ruim e deixo de lado, pela metade, ou chegando nela... 1,2, no máximo 3 parágrafos e lá se vai toda minha criatividade que se perde sem ao menos saber se saiu.
Quando tentei compreender por vários meios, logo vi! Ao passar do tempo com mais raciocínio lógico das coisas, o seu instinto de escrever se perde pelo caminho, como se ficasse mais difícil escrever pelo "medo" de errar, seja na gramática, seja na idéia de veracidade no que se diz.
Nunca fui nenhuma heroína, entretanto, minha histórias sempre tiveram bastante emoção, era como se uma história de conto de fadas começasse a existir, mesmo se o tema fosse algo banal, a minha história, tinha críticas extremamente valiosas! Eu tinha potencial, cresci "potencializada" e hoje em dia vejo que assim tão longe já não alcanço!
Os amores passaram; a busca pelo novo perdeu a maturidade da palavra buscar; o meu jeito modificou-se; o meu corpo amadureceu; meu semblante amadureceu, meus olhos tem o mesmo brilho; mas as minhas idéias e ideais de mudar o mundo com um texto não é mais o mesmo! É fácil começar a desacreditar nas coisas quando elas não te dão idéias de que podem crescer... você investiria em uma empresa falida ? não é difícil responder!
Hoje eu tenho a absoluta certeza que não posso sair por aí com meia dúzia de verdades espalhando a sujeira pelos lugares.Eu tenho tantas verdades que hoje eu não tinha( mas que jur
ava que eram reais) que ter certeza doída dessa verdade, faz com que eu pense antes de expor!
Ser mulher, dói. Eu acreditava nisso mesmo sem sentir a dor . Hoje que eu sinto prefiro calar...
O que eu sei (é que nada sei) é que não sei escrever.E se sei , não sei mais passar pra alguém. Qualquer dia com inspiração, talvez eu consiga. Contar mentiras eu não consigo mais (escrever)...

"O poeta é um fingidor
finge tão completamente
que chega a fingir que é dor
a dor, que deveras sente..."
Fernando Pessoa




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domingo, 17 de fevereiro de 2008



Alguém me deixa amar as reticências em paz?
"As reticências são os três primeiros passos do pensamento que continua por conta própria o seu caminho..."
Ele disse isso, problema dele, reticências viraram moda! E eu não aguento mais usar reticências pra tudo que eu digo, eu uso e a pessoa fala:
"- continua..." (Era pra ele me beijar! Oraaas) .
Porque ninguém me deixa amar as reticências em paz? Eu uso e tem sempre alguém reclamando! Que impertinência! Dá pra aceitar eu amar as reticências, em paz?
Simplesmente eu não quero que você leia o que eu não quero escrever, reticências! É para você entender o que se diz quando não se quer dizer, é muito pedir pra você ler meus olhos? Eles não usam reticências... Eu as uso para que você absorva com uma interrogação de quem precisa de MAIS para entender, ou de uma simples resposta; Meus etceteras você nem recolhe, deixa-os caídos e exterminados, ao vento, relento... Que custa olhar dentro dos meus olhos onde não há pontos, nenhum sinal gráfico? Minha mãos que fazem pontos... Tremem desisperadas a procura das suas. Custa acreditar na frase com três, pontos e palavras? Não finja que isso não é com você quando se tem a absoluta certeza de que é! Sinceridade também usa reticências.
- "Eu te amo..."




segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Santa Preguiça

Eu sinceramente ainda não encontrei o espaço dentro de mim que seja mais racional que emotivo, e por mais que todas as minhas palavras (a)pareçam vindas do iluminismo
"Mas você tem que pensar em você..." Vai falar isso obtendo a absoluta certeza de que a culpa, (no caso) se der errado, vai ser tua?
... É, eu também acho melhor você não tentar ajudar! Nem sempre o que te faz feliz agora é se fazer feliz, tem certos momentos que fazer a outra pessoa feliz, causa um bem-estar tão puro que " bem-estar-bem" com alguém é tão gostoso que você se corrompe sem querer. E a sua vontade? Cadê? Minha vontade vale mais do que a vontade de (S)ser feliz? Quanto egocentrismo!
no momento de mais exausto questionamento, eu creio que por mais racional que eu fale, e seja exato o que sinto... Racional eu não pulso.
-Pai eu quero aquele brinquedo de presente...
- Filho eu não tenhu trezentos reais para um boneco agora, espera...
-Mas paaaaaai, amanhã na casa de Mariozinho todo mundo vai levar esse boneco!
- Então nós levaremos um diferente, o boneco mais bonito e forte feito com a madeira que eu trouxe hoje!
Insatisfeito, foi o menino com o pai pelo quintal a cortar, serrar, enevernizar, etc, etc! E lá estava o boneco mais lindo que o pai tinha feito... Chegando a casa de Mariozinho lá estavam todos com os seus bonecos trezentos e tantos e o filho se divertiu honrosamente e o pai satisfeito, pois havia ensinado uma bela lição ao filho! O que vale é o final , a intenção, com que boneco você brincou não vai fazer sentido no final!


Será que com a felicidade também é assim? Se privar de coisinhas como EU-vontade ou destino-da-vontade vale a pena se chegamos ao mesmo ponto? Qual é a definição de felicidade? Eu ainda não tive a certeza disso, já cheguei a felicidade das duas formas e não vejo diferença... Sendo que algumas mudanças no caminho podem fazer a felicidade ser diferente sim!
Não há um só jeito de ser feliz, a felicidade plena só existe no "e eles viveram felizes para sempre..." dentro de algum livro que leram quando ainda te faltava algum dente na boca. E mesmo assim ninguém contou como foi esse feliz e nem disseram quanto tempo durou o sempre...







quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

"A inteligência,
é um erro da evolução. No tempo dos primeiros homens pré-históricos, posso imaginar perfeitamente bem, no seio de uma pequena tribo, todos os meninos correndo no mato, perseguindo os lagartos, colhendo bagas para o jantar; e pouco a pouco, em contato com adultos, aprendendo a ser homens e mulheres completos: caçadores, coletores, pescadores, curtidores... Mas, olhando mais atentamente a vida desta tribo, percebe-se que algumas crianças não participam das atividades do grupo: elas permanecem perto do fogo, protegidas no interior da caverna. Elas jamais saberiam se defender dos tigres-dentes-de-sabre, nem poderiam caçar; entregues a si mesmas, não sobreviveriam por uma noite. Se elas passam os dias sem fazer nada, tal não se dá por indolência, não, elas bem que gostariam de dar cambalhotas com os companheiros, mas não o podem. Ao pô-las no mundo, a natureza manquejou. Nesta tribo, há uma pequena cega, um rapaz coxo, um rapaz desajeitado e distraído... Assim, eles permanecem no acampamento o dia todo, e, como não têm nada para fazer e como os videogames ainda não tinham sido inventados, são obrigados a refletir e a deixar deambular os seus pensamentos. E passam o tempo a pensar, a imaginar histórias e invenções. Eis como nasceu a civilização: porque crianças com defeitos não tinham nada mais para fazer. Se a natureza não estropiasse ninguém, se o molde fosse sempre sem falha, a humanidade teria permanecido numa espécie de proto-humanidade, feliz, sem nenhum pensamento de progresso, vivendo muitíssimo bem sem Prozac, sem preservativos nem aparelho de DVD dolby digital. "


(- Como me tornei um estúpido-)


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